A IMPORTÂNCIA DA MONOCULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NO CONTEXTO BRASIL COLÔNIA
A IMPORTÂNCIA DA MONOCULTURA DA CANA-DE-AÇUCAR NO CONTEXTO BRASIL COLÔNIA
Miquéias Nascente da Conceição
RESUMO
Este artigo trata o assunto da importância da monocultura da cana-de-açúcar no contexto Brasil colônia. Visto que no Brasil, no período inicial da colonização, não haviam sido encontrados materiais de importância econômica, como podemos nos referir aos metais preciosos que eram de grande valia para o crescimento econômico aos olhos do Europeu colonizador, o processo que foi implantado teve como objetivo criar alguma sustentação para a economia para posterior lucro da Metrópole. A cana-de-açúcar terá na sua utilização uma grande importância no desenvolvimento da economia, assim como o escravagismo será dentro deste contexto um valor econômico de grande valia ao colonizador.
Palavras chave: desenvolvimento, escravagismo, mão-de-obra, cana-de-açúcar;
1 INTRODUÇÃO
Quando falamos de História Colonial Brasileira devemos destacar o período compreendido entre a posse do território e os trinta primeiros anos de exploração litorânea desenfreada e que culminou com a rapinagem do pau – Brasil, praticamente extinto da costa brasileira. A colonização e povoamento das novas terras se deram frente à ameaça de invasão por outros países colonizadores. Foram criados os primeiros latifúndios – as capitanias hereditárias,que resultaram em fracasso, haja vista que apenas duas atingiram seu objetivo. Conjuntamente com a criação das capitanias hereditárias foi introduzida na colônia à cultura canavieira e a roldão adveio o flagelo da escravidão. Mão – de – obra barata e fonte de lucros significativos, à escravidão de negros, oriundos de colônias portuguesas no continente africano, atenderam a necessidade de braços que a cultura açucareira tanto necessitava. É desta forma que nasce a sociedade colonial brasileira, ou seja, escravocrata, burocrática, centralizadora, latifundiária e patriarcal, características ainda fortemente presentes na atualidade.
2 PERÍODO COLONIAL
Ante o esgotamento de nossa primeira riqueza [pau-brasil] e a ameaça de ocupação por outras potências européias, os portugueses após verificar que o clima e o solo eram propícios, transportaram para o novo mundo as primeiras mudas de uma planta de origem asiática, a Saccharum officinarum ou simplesmente cana – de – açúcar. Os portugueses já dominavam a produção açucareira apresentando um grande now round, esta experiência parte das plantações de cana em Coimbra e Algarves, na Ilha dos Açores [clima desfavorável e insucesso] e, principalmente na Ilha da Madeira onde a produção foi intensa, colocavam os portugueses em substancial vantagem frente aos seus adversários.
Para solucionar e incentivar o povoamento o governo central cria o sistema de capitanias hereditárias, sendo esta a mãe geradora do latifúndio. Poucas aquelas que lograram êxito em virtude do grande investimento que os donatários eram obrigados a incidir sobre a propriedade, também pela falta de estrutura administrativa e ausência de mão-de-obra. Das várias capitanias originais apenas as de São Vicente e Pernambuco floresceram graças ao clima e a capacidade administrativa de seus donatários. Para Cabral (2007): "Diante de toda dificuldade enfrentada pelas capitanias, destacou-se a Capitania de São Vicente do donatário, chamado Martim Afonso de Souza, e a Capitania de Pernambuco do donatário, chamado Duarte Coelho Pereira. Estas favorecidas pelo clima que existia na região favoreceram a produção da cana-de-açúcar [...]".
A monocultura da cana – de – açúcar manteve-se à frente da economia colonial mesmo sofrendo revezes, como as concorrentes holandesas em Natal e caribenha, que já se mostravam como grande competidor. O domínio da cana no Brasil colonial superou todos os obstáculos e sempre se apresentou como principal força motriz da economia, até mesmo no ciclo dos metais nobres ou aurium a partir do século 18.
3 O ESCRAVAGISMO
As primeiras tentativas de mão – de – obra escrava foram com os índios, mas obstáculos como facilidade de fuga [os nativos conheciam o território], a ausência do hábito de cultura extensiva, o desconhecimento das tecnologias usadas para o plantio e beneficiamento da cana – de – açúcar, a dificuldade de comunicação entre nativos e colonizadores e, por fim o contragosto de parte da Igreja na prática do trabalho escravo, foram os principais entraves para a utilização dos indígenas.
É sabido que os traficantes portugueses a muito lucravam com a compra e venda de escravos, por sinal uma prática adotada pela maioria das grandes potências ocidentais. A partir das colônias da África foram capturados ou comprados de tribos inimigas milhares de negros e trazidos a colônia americana para a venda e, posterior trabalho nos engenhos. A forma degradante e violenta que a população negra era agrilhoada e transportada em navios negreiros ou "tumbeiros", nome apropriado para as caravelas onde um número elevado de escravos acabava morrendo graças ao tratamento insalubre e desumano imposto pelos raptores. Leiamos o depoimento de Machado (2007) que relata a situação dos prisioneiros africanos:
“Embarcados como carga animal nos porões dos navios, atravessavam a viagem, de algumas semanas, acorrentados e apertados, sem possibilidades de se movimentarem para ao menos "esticar a musculatura". O espaço era tão restrito que muitas vezes tinham que se alternar entre ficarem sentados ou em pé. As correntes marcavam seus braços e pernas, causando-lhes ferimentos pela quantidade de dias que ficavam aprisionados.”
Após algumas semanas de traumática viagem os sobreviventes são alimentados e preparados para a venda, geralmente realizada em praça pública. A grande maioria era separada dos familiares e enviada para as fazendas e engenhos, poucos afortunados acabavam trabalhando na sede das fazendas e escapando das agruras da lavoura. Esta situação perdurou por cerca de trezentos anos e só se desfez graças à pressão internacional em especial a inglesa, motivada pelo interesse em aumentar suas vendas de produtos industrializados para Portugal e suas colônias.
4 SOCIEDADE E ECONÔMIA CANAVIEIRA
As fazendas de plantação de cana – de – açúcar e seus respectivos engenhos eram administrados pelo senhor de engenho, figura que por muitos séculos representou o patriarcalismo severo dos escravocratas. Aliados e submetidos a estes senhores representantes da aristocracia canavieira estavam os plantadores independentes que vendiam a cana – de – açúcar bruta por um baixo preço. Para controlar as relações de trabalho e abastecimento das fazendas uma dúzia de homens livres agregados e / ou capatazes vendiam sua mão – de – obra para aplicação das medidas necessárias para a produção açucareira, submetendo os escravos as mais cruéis ações. De acordo com Storto & Filho (2008):
“A importância dos agregados no controle social pode ser demonstrada pelas relações de apadrinhamento com os escravos, cumprindo assim uma dupla função de controle: de um lado pela intimidade e confiança, de outro pelos castigos. O senhor era o proprietário do engenho e da maioria das pessoas que viviam ao seu redor. Com poder quase absoluto sobre as regras de comportamento e de trabalho, exercia a autoridade local, que se estendia, a rigor, para muito além dos limites do engenho. Os senhores formaram a primeira elite política e econômica da história de nosso país.”
As províncias e vilas dependiam da economia canavieira, pois abasteciam com produtos importados, a aristocracia representada pelos senhores de engenho. As instituições que representavam o poder monárquico – central por sua vez eram dependentes dos impostos advindos do plantio, beneficiamento e venda do açúcar, outro alicerce arrecadador de impostos era o comércio de escravos. Durante o predomínio do ciclo da cana – de – açúcar a economia girava em torno do chamado ouro branco, principal produto de exportação que abastecia toda a Europa.
5 CONCLUSÃO
A denominada pré-colonização se destaca pela feroz exploração do litoral brasileiro, ficando claro o desinteresse pela povoação das novas terras. Estas três décadas resumem-se pela devastação da floresta da Mata Atlântica rica em pau-brasil, primeira riqueza aqui explorada pelos colonizadores. O povoamento fica limitado aos pontos de atracação das caravelas para o embarque das mercadorias. Os únicos portugueses que aqui permaneciam eram os tripulantes e exploradores utilizados para a retirada do vegetal nobre.
Empurrados pela ameaça de invasão de outras potências européias Portugal passa a pensar seriamente e sistematicamente na povoação do território da nova colônia. Para tanto divide o Brasil em capitanias hereditárias e os receptores de cada capitania eram os responsáveis pelo povoamento. Poucas foram as capitanias que obtiveram êxito. O passo seguinte é a implantação da cultura da cana – de – açúcar. Surgem os primeiros engenhos, a importação de escravos negros advindos das colônias africanas atende a demanda por mão – de – obra necessária para o plantio, colheita e beneficiamento da cana.
Surge a partir dos engenhos a sociedade aristocrata canavieira que moverá a economia brasileira por trezentos anos. Não somente a economia depende da cana – de – açúcar, mas a política passará a ser determinada pela mesma. A organização social apresenta no ápice da pirâmide o senhor de engenho, caracterizado pelo patriarcalismo severo influenciado pela dureza do escravismo. São heranças deste período a excessiva burocracia, o latifúndio, o paternalismo e a escravidão que muitos acreditam ter sido superada ainda no século 19, mas que na verdade persiste no interior do Brasil contemporâneo.
6 REFERÊNCIAS
CABRAL, Gabriela. Capitanias hereditárias. Disponível em: http:/ /www.brasilescola.com/historiab/capitanias-hereditarias.htm. Acesso em: 26 de fevereiro de 2009.
MACHADO, João Luís Almeida.Travessia Infernal. Disponível em: https://www.Planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=190. Acesso em: 26 de fevereiro de 2009.
STORTO, Lúcia Helena; FILHO, Sidney Aguilar. O mundo colonial.Disponível em: https://www.libertaria.pro.br/brasil/capitulo03_index.htm. Acesso em: 26 de fevereiro de 2009.
03/03/2009.